terça-feira, 22 de novembro de 2016

RIBEIRO DO PÉGO

Não é assim que se escreve mas é assim que se lê e que se diz!


Isto porque e devido ao facto de ser interpelado na minha condição de Areosense esclarecido ( e já agora, pretensioso!) sobre este mesmo ribeiro a que nós chamamos RIO.

E já é a segunda vez que uns alunos já não sei de que escolas, além de certos entendidos de café, tendo vindo à borda das profundezas dos meus conhecimentos, me perguntam sobre o dito cujo mas identificando-o como o Ribeiro do Pêgo. Assim mesmo!

- OH Meus meninos! - Quem foi que vos disse que o Ribeiro era do Pêgo?

- Foi um Professor nosso!

Disseram até o nome do Professor. Mas isso nem sequer toma a importância do facto. 

- Pois digam a esse professor que não é Pêgo mas sim Pégo - com é aberto!

Pêgo é o marido da pêga. 

Pégo refere-se a uma queda de água coisa parecida com o salto que o ribeiro dá no sítio do Pôço Negro e que deu por isso nome ao Rio. Vem do latim pélago. Qualquer bom diccionário ensina.

Pensei melhor e aconselhei os desgraçados a não dizer nada ao professor pois poderia chumbá-los. Mas não deveriam perder de vista a asneira!

Tanto mais que nesta terrinha onde nasci  e desde que tomei conhecimento da minha circunstância, nunca ouvi dizer a nenhuma mãe, avó ou bisavó  que tinham ido lavar a roupa ao rio do macho da pêga!

Tone do Moleiro Novo

sábado, 12 de novembro de 2016

Orlando Raimundo

Orlando Raimundo

Já perdi um bom pedaço do meu precioso tempo com este assunto. 


Mas como ORLANDO RAIMUNDO vem lá citado, acabei por adquirir o livro ANTÓNIO FERRO O INVENTOR DO SALAZARISMO, da sua autoria.  Aqui vai o frontispício!





































Devo reconhecer que se trata do resultado de um trabalho de pesquisa notável!

Mas…

Na pressa de identificar António Ferro como inventor do Salazarismo, acaba Orlando Raimundo por ser ele próprio o inventor de que António Ferro inventou!

Vejamos:

Na Página 216 do exemplar que é meu (porque o paguei!) pode ler-se e em relação à FILIGRANA

“ Associada à extracção do ouro, no Norte do País, a filigrana parece ter surgido pela primeira vez na Póvoa do Lanhoso, sendo depois integrada, por acção dos folcloristas da propaganda, no traje tradicional das mulheres do Minho.”

- Terá sido???

Vejamos o que Ramalho Ortigão descreveu nas FARPAS em 1887 a seguir ao que viu na vestimenta das vendedoras numa feira em Viana em 1885
“Brincos largos de filigrana de Ouro”

Mais à frente, numa velha de sessenta ou setenta anos
“Arrecadas de filigrana”

E acerca da filigrana veja-se o que ROCHA PEIXOTO escreveu no  estudo  As filigranas,  que foi primeiramente publicado em 1908, no tomo II, fascículo 4.º, da Revista Portugália, publicada a 17 de Setembro desse ano na cidade do Porto.

Ora dizer que a integração da filigrana no traje tradicional das mulheres do Minho foi acção dos folcloristas da propaganda, ( de António Ferro,  por suposto) é obra! Tendo em conta que Ferro nasceu em 1895 não é só obra!  É desdobra!

Feérica  é  a serenata final do capitulo a pag.  217 em que  Orlando Raimundo tira o chapéu a António Ferro   
  
“… que teve a habilidade de inventar um país que nunca existiu ou pateada ruidosa aos preguiçosos que não fizeram o trabalho de casa?”

Quem é que é preguiçoso e não fez o trabalho de casa?

Vejamos!

Mais à frente e na página 279
“Forjam-se em vez disso, tradições como a ostentação de ouro nas minhotas da Senhora da Agonia…  sinais exteriores de uma riqueza inexistente.”

Ai sim???

Vejamos agora D. António da Costa,  em NO MINHO, Lisboa 1874 e ao acaso.

“O Peito das minhotas é um céu estrelado! Grilhões de todos os feitios, corações de oiro lavrado, excedendo a palmo, florões que disséramos os grandes crachás Espanhóis  de Carlos III, arrecadas que chegam aos ombros, crucifixos enormes, enormes Virgens da Conceição, peças inteiriças de calvários. Além das três grandes cruzes de Jesus e dos ladrões, o grupo das marias e a scena da tremenda tragédia.”
“A ( minhota) que apresenta nas orelhas um par de compridas e largas arrecadas obedece simplesmente ao mínimo dever; a que apresenta dois pares, cumpre-o; o luxo é penderem-lhe das orelhas três pares e ás vezes quatro!”

Ler também o que este autor diz sobre o significado do oiro e do sacrifício que até os mais humildes faziam para o obter e conservar.  A riqueza não existia. Mas coleccionavam ouro. Ou seja: - Poupavam para os tempos de crise! Além de lhes servir de adorno em tempos festivos!

( Como à parte uma observação curiosa de Cláudio de Basto e já em 1933!                    – Ver Traje à Vianeza

“Vão desaparecendo, porém, as volumosas peças de oiro, os grilhões e as placas enormes, - e vai aparecendo a jóia cada vez mais leve, mais graciosa.”  

Queixam-se agora os puristas que nas Festas de Agonia as Minhotas levam ouro a mais!

- Vá lá entendê-los!)

Voltando a D. António Costa que:
Numa lavradeira de Deucriste no mercado de Viana viu:
“Das orelhas pendiam-lhe arrecadas resplandecentes, ao redor do pescoço um grilhão de oiro em cinco voltas…”

Vejamos de novo o que Ramalho Ortigão descreveu nas FARPAS em 1887 a seguir ao que viu na vestimenta das vendedoras numa feira em Viana em 1885.
“Colares de Contas de ouro Liso”

Na tal velha de sessenta ou setenta anos
“Colar de Grandes contas de ouro pulido”

Numa jovem viúva tecedeira em Cardielos
“Arrecadas e colar de ouro”

Ainda no tal estudo «As filigranas», da autoria de Rocha Peixoto, que foi primeiramente publicado em 1908, no tomo II, fascículo 4.º, da Revista Portugália, publicada a 17 de Setembro desse ano na cidade do Porto, consta:
“Entre nós e ainda actualmente, multiplicam-se os cordões e as gargantilhas, duplicando-se os corações, acrescentando-lhes as cruzes e os cruxifixos, as Virgens da Conceição e os medalhões.” Isto no peito das minhotas!

-Querem ver as fotografias que constam neste trabalho de Rocha Peixoto?
Uma delas foi colorida e deu origem a um postal!




- Quererá isto dizer que Rocha Peixoto foi ludibriado por tudo o que viu e registou?
- E num tempo em que António Ferra andava de Fraldas???

E se querem mais testemunhos da época e não invenções, ler o que  Alberto Sampaio ( 1841 – 1908) em "A Propriedade e Cultura do Minho", na "Revista de Guimarães", vol. V, 1888, pg. 49, escreveu acercas dos minhotos (as)


( Alberto Sampaio o tal das Póvoas Marítimas).


Mas não se fica por aqui o Senhor Orlando Raimundo!

Na página 280 da sua obra consta:
“Ferro, recorre ao talento e á criatividade de Bernardo Marques para inventar o novo estilo, e é assim que surge a exuberância de cores do Rancho de Santa Marta”

Não vou decalcar tudo o que os autores citados escreveram sobre os trajes que viram. Nem tão pouco citar as cores que cada um neles identificou nas diferentes peças do vestuário observado.  Fico-me por aquilo que D. António da Costa escreveu em 1874 sobre,  precisamente, 
“ As de Santa Marta e Meadela…”
“… pôem o seu chiste principal na viveza das cores. O grande lenço chale, verdadeiro turbante, em que predomina o escarlate, é lançado com a mais fantasiosa elegância. A saia riscada a quantas cores há, um verdadeiro arco íris; grande lenço bordado nas mãos; meia alvíssimas, chinelinhas pelo meio dos pés, terminando em bico.”

E Ramalho Ortigão in Farpas 1887 acerca de uma tecedeira precisamente de Santa Marta:
“Colete Azul bordado a vermelho e a ouro. Saia azul com listras e barra encarnadas. Algibeira vermelha com lentejoulas de ouro. Grande lenço de algodão vermelho…”
E de outra da Meadela  vestida de cinzento e Azul… etc.

Isto apenas e para além de toda a restante policromia também descrita por Rocha Peixoto  e outros. Entre os quais ABEL VIANA em 1917 que quanto ao traje de Santa Marta (d)escrevia:

SAIA - A barra é preta bordada a branco, torçal quasi sempre a lantejoula e missanga.

AVENTAL - Atapetados com vários desenhos em geral rosas e coroas, predominando as cores: rosa verde, amarelo e vermelho.


LENÇO - Vermelho


CAMISA - Bordada nos ombros a azul ou vermelho.


COLETE - Comum a outros trajes. Em veludo preto no cinto havendo também em vermelho roxo e verde.


ALGIBEIRA - Comum a outros trajes bordada a fita de lá e missangas, lás de várias cores com lenço bordado com linha de algodão azul ou vermelho.


Mas face à douta informação do Sr. Orlando Raimundo 

teremos que concluir que toda essa gente era daltónica!  

Via cores que não existiam e que só apareceram com o Estado Novo via António Ferro e Benardo Marques!

Ora bolas Senhor Orlando Raimundo!

- Quem é que não fez (no que respeita)  o trabalho de casa?

Não estará, o senhor mesmo, a dar demasiados créditos a António Ferro?


E a mim o que me preocupa não é a ignorância do Sr. Raimundo ( ou pelo menos o seu desleixo)! O que me preocupa é que daqui a cem anos se vai ler o que foi publicado hoje na capital do império (este já vai na segunda edição!). Ninguém vai deitar sentido ao que o desvairado do Lopes alguma vez possa ter dito ou escrito na NET.!



Tone do Moleiro Novo