sábado, 29 de dezembro de 2012

POVO QUE LAVAS NO RIO

Lá venho eu outra vez a Pedro Homem de Mello. Não fosse a minha tutela.


Desta feita porque dei com;

http://biclaranja.blogs.sapo.pt/710311.html

e daí saltei para;

http://pt.wikipedia.org/wiki/Povo_que_lavas_no_rio

Para ver se era verdade.

Era mesmo: uma delirante explicação (?) do significado do Poema!

Com que caralhos é que Pedro Homem de Mello afirmou ter dormido com eles na cama para se concluir que era homossexual?

No Poema, Pedro Homem de Mello dormiu com os aromas de urze e lama que são os Aromas, a Urze e a Lama de S. João d'Arga  exactamente os mesmos  com os quais também eu dormi. E ninguém me foi ao pacote por causa disso!

Assaltados não sei por que subconscientes temores ou ànsias aparecem uns intérpretes que não sabem do que falam. Se ainda fossem honestos e limpos! Mas borram as mãos com a merda  que têm na cabeça pensando que com ela atingem quem está para além do alcance do arremesso.

E é em

http://biclaranja.blogs.sapo.pt/710311.html

que encontro o entendimento da singeleza do Poema

" um poema que muito simplesmente canta a força do povo no seu viver agreste, para lá de «haver quem [no] defenda» ou de «quem compre o [seu] chão sagrado» (quem no ofenda, portanto).
 Mais, a comunhão do narrador com aquela condição, que o povo não deixa de reconhecer pois até na morte o cuidará, talhando-lhe a força de braço «as tábuas do [seu] caixão», isto é, dando-lhe sepultura digna."


Depois o tal povo que lavava no rio eu o conheci. Era a minha mãe, era a minha avó era a minha tia. Eram todas as mulheres de Areosa.
Até sei onde eram os rios e seus nomes. Era o da Maganhão, era o dos Ôlhos, era o da Ponte Nova. era o do Rapido, era o das Pontes do Cascudo era o do Poço da Baeta o do Poço da Arrinca. Era o da Romenda, Era o de Fontes era o do Fincão onde até as da Ribeira vinham lavar.

Depois o tal Povo que ía à feira e à tenda eu o conheci. Era o meu avô que dizia que ir a Ponte de Lima e não ir à tenda do Cachadinha ou da Rosa Paula era como ir a Roma e não ver o Papa. Ainda reconheço esse Povo nas feiras de Ponte e do Cerdal nas tendas de S. João ou da Peneda.  Eram todos os lavradores que se debatiam com os regatões por umas quantas notas, por uma vaca.

A malga de mão em mão eu por ela bebi nos tempos em que os artistas no regresso a casa paravam na Loja do Perrito e de lá não saíam sem que antes tivessem pago cada um a sua rodada daquele verde tinto intragável. Se no beijo na tigela que passava de mão em mão o Poeta viu irmandade, comunhão ou outra coisa qualquer, por isso era Poeta: 

Procissões, praias e montes, areais, píncaros passos, braços e fontes, quem não os conheceu???

Montanhas veredas e cangostas foi Pedro Homem de Mello que as inventou?

Buxas, lobas, estrelas. Vozes na casa deserta, almas penadas,  chascas nas encruzilhadas? - Quem não ouviu histórias medonhas?

Quem não sabe ao que o Poeta se refere quando afirma que tinha rasgado certo corpo ao meio e que tinha visto certa curva em certo seio?

Apesar de tudo e mesmo assim o Poeta se confessa apartado da essência do Povo que tão bem canta.
- Pertenço-te e deste-me alturas de incenso, mas não me deste o teu modo de viver porque esse é inatingivel.

Assim e embora não concordando com a conclusão de João Vasconcelos

Ver


encontro neste a explicação evidente do "desencontro" do Poeta com o tal Povo atrás do qual seus passos vão.

"A distância que o poeta de Homem de Mello experimenta em relação ao povo é diferente da melancolia do poeta-pintpr de Nobre. É  uma distância amargurada, contrafeita, de um homem que sendo poeta e bailador, bailando como o povo e com o povo, crestando como ele e pele ao sol, partilhando a malga que anda de mão em mão sente ainda assim que há uma vida que se lhe escapa por entre os dedos quando tenta agarrá-la. O Poeta pode bailar mas não deixará nunca de bailar "como quem baila."

Ver
http://www.ics.ul.pt/rdonweb-docs/Povo%20Enquanto%20L%C3%ADbido.pdf

Resumindo, POVO QUE LAVAS NO RIO é um hino ao Povo. Pelo menos ao Povo do Alto Minho, em relação aos quais  já pressenti muito desdém.

Talvez por inveja.

Talvez porque haja muita boa gente que não aceitou em  Pedro Homem de Mello a sua rebeldia.

"- Monárquico em todas as repúblicas do mundo."


Ou que, apesar disso, ousou afastar-se dos seus, cujo desprezo presenciei na muralha inultrapassável em frente à Havaneza em noites de Feiras Novas.

Ou porque a intelectualidade não conseguiu catalogar o Poeta no cardápio das correntes e das mediocridades.

Outros porque não perdoaram ao Poeta ter-se misturado com o tal povo e cantado essa vivência roubando assim a iniciativa aos especialistas.

Outros porque não lhe chegando à bitola se apressaram a classificar Pedro Homem de Mello como poeta de segunda!

Sei lá!

Lopesdareosa

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

S. JOÃO DA CRUZ

Quem me deixou este escrito foi a tal inglesa que fazia parar no trânsito o carro da vaca só nos caminhos de Afife.


Trata-se de um texto de S. João da Cruz, em inglês, do qual me preocupei em saber como era em castelhano. Também aqui vai!

Cuando tu me miravas
tu gracia en mi
tus ojos imprimíam
por esso me adamavas
y en esso merecíam
los míos adorar
lo que en ti vían.

Lopesdareosa

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

UM POVO QUE NUNCA EXISTIU

A frase completa é

"Na qualidade de observador distante, resta-me acrescentar que esse povo autêntico cuja certidão de óbito Homem de Melo passa aqui nunca existiu fora do encantamento de quem o imaginou."

Foi escrita por João Vasconcelos e encontra-se em
file:///C:/Users/Compaq/Downloads/Povo%20Enquanto%20L%C3%ADbido.pdf

Intitulado

O Povo enquanto libido no folclorismo poético de Pedro Homem de Mello (1904-1984)

O que quer dizer que não deve ser tomada literalmente e que deve ser contextualizada para entender ao que o autor se refere para concluir dessa forma.

O texto em causa trata de uma visão sobre a figura de Pedro Homem de Mello, a sua obra e a sua "estética" ligando o Poeta ao folclore e estes ao tal povo que embora referenciado e reverenciado pelo mesmo, não teria existido para lá (ou para cá) da excitação libidinosa do Poeta (Se bem entendí conjugando a conclusão com o título do texto). A não ser assim não entenderei a que povo ou a que libido se referiria o autor.

Ou seja, tudo se passaria sem que nada houvesse para lá ( ou para cá) da exaltação do Poeta. Em parte é verdade. Eu diria que sendo o tal povo cem por cento, Pedro Homem de Mello lhe terá acrescentado mais vinte por cento fruto da sua sensibilidade exacerbada. ( Fosse causa ou efeito por isso era Poeta.)

Em primeiro lugar é necessário localizar o Poeta no meio do tal folclore e ele próprio esclarece em texto publicado no Jornal de Notícias.

"Causa e não  causa pasmo talvez que o autor desta crónica intitulada folclore não se considere nem deixe de se considerar folclorista. Todavia, a seu respeito, no que se relacione com a cultura popular, unicamente podemos afirmar que, nele, a paixão dominante foi, desde sempre, a dança." 

Ou seja; Poeta, Pedro Homem de Melo, alguém o carimbou de "folclorista".

Coloca-se assim neste contexto a não existência desse tal povo que o terá libidinosamente empolgado. Círculo vicioso de insolúvel desenlace.


A minha opinião é exactamente contrária. Quer Pedro Homem de Mello tivesse ou não andado por estas paragens o tal Povo teria existido sempre.
E constituir-se libido nas entranhas de alguém dependeria sempre desse alguém. Caso do Poeta, pelos vistos

Ora Pedro Homem de Melo só por um acaso apareceu no alto Minho.

Quando um ser humano vem ao mundo há qualquer coisa de transcendente na sua génese - quer se trate da natureza ou se pela mão de alguma divindade ( as religiões acreditam nesta ultima explicação) Assim sendo a Pedro Homem de Melo corresponderia a inevitabilidade da sua existência. Logo não se pode exluir a sua passagem por este mundo para demonstrar que este mesmo mundo rolaria mesmo sem ele.

Mas já a passagem de Pedro Homem de Melo pelo Alto Minho não dependeu de algo tão elevado. Foi resultado de um acto bem comezinho e trivial. Apenas e porque o seu Avô, Cunha e Pimentel, comprou aos da Casa dos Cortiços, uma propriedade roubada aos cregos pelos liberais e que o General Luis do Rego tinha apanhado por tuta e meia. Não o tivesse feito e Pedro Homem de Melo, a quem não lhe negaria a existência por causa disso, possivelmente nunca poria os pés em Afife nem tão pouco contactaria com o tal povo, pelo menos o do  Alto Minho

Seria na mesma poeta, frequentaria o Porto e possivelmente escreveria o mesmo POVO QUE LAVAS NO RIO inspirado não no Rio de Cabanas, mas no de Águeda ou em Provesende, terras de seus avós paternos e maternos onde de certo também o tal povo  lavava nos rios.

Por uma vez Pedro Homem de Melo se enganou. O tal Povo teria já desaparecido - Nada mais errado

Apesar do progresso e do desemborbimento os do Alto Minho (e os outros) não deixariam de lavar nos seus rios. (Onde deixaram de o fazer é porque lhe poluiram as águas ou lhes roubaram o caudal). Nem deixaram  de ir ás feira e à tenda desde Ponte de Lima à Peneda. Nem do Cerdal ou dos Curros na Galiza.

Sorte tivemos nós que isso tivesse acontecido (Pedro Homem de Melo ter andado por estas bandas) dado que se isso não fora, teríamos percorrido metade do século passado sem que uma alma poética do calibre do Dr. Pedro tivesse reparado no tal Povo. Talvez uma Maria Manuela Couto Viana.


Mas a notícia  do tal observado Povo não  dependeu apenas do interesse lírico  de Pedro Homem de Melo. O mesmo Povo, as mesmas circunstância, os mesmos heróis, os mesmos protagonistas foram cantados por outros não tanto ( ou até mais) libidinosos como Pedro Homem de Melo.

Leia-se Ruben A e o que ele escreveu sobre Carreço.

Leia-se Maria Manuela Couto Viana e o seu
Romance do Rapaz de veludo
http://lopesdareosa.blogspot.pt/2010/12/maria-manuela-couto-viana.html


Leia-se António Pedro no surrealista
PROTOPOEMA DA SERRA D'ARGA
http://lopesdareosa.blogspot.pt/2011/03/protopoema-da-serra-darga.html

Leia-se Helena Tarouca naquilo a que chamei
ROMANCE NA PONTE DE S.JOÃO
http://lopesdareosa.blogspot.pt/2011/04/cabanas-afife.html

Leia-se o que Ernesto Veiga de Oliveira escreveu sobre S. João D'Arga e sobre o Vilarinho.

E tantos mais sem que a visão desses sobre o mundo fosse exactamente a mesma de Pedro Homem de Melo.

Ou seja,  o tal Povo que Pedro Homem de Melo testemunhou, sempre existiu. E ainda existe, por mais incrível que a coisa se nos apresente.

Quem não acreditar nisso que pergunte ao Alberto Sardinha ou ao José Maria Barroso. Pergunte a um tal Pina Cabral.

E que venha comigo à Peneda ou à Barca, ouver aquelas imensas e intermináveis rodas da Cana Verde.
(Esse tal Pina Cabral já por lá andou segundo confessa no seu AROMAS DE URZE E DE LAMA).

E depois dos meus olhos caírem de inveja por não ser capaz de dançar daquela maneira - como aquele povo autêntico. Mais que não seja porque não há outro - e depois de eu contar o meu lamento ao mundo, que ninguém me venha dizer que esse defeito não terá passado de uma manifestação orgástica do meu encantamento.

Tone do Moleiro Novo

sábado, 1 de dezembro de 2012

OS ESTIGMAS QUE NOS AFASTARAM DO MAR E DA AGRICULTURA

"Numa altura em que urge criar riqueza no país e gerar novas bases de crescimento económico, é necessário olhar para o que esquecemos nas últimas décadas e ultrapassar os estigmas que nos afastaram do mar, da agricultura e até da indústria, com vista a produzirmos, em maior gama e quantidade, produtos e serviços que possam ser dirigidos aos mercados externos",

Estou a citar quem citou ( ver imprensa do dia 22 de Novembro de 2012) e quem cita o que foi citado a mais não é obrigado!

Acontece que segundo dizem os por mim citados quem falou a coisa em primeira mão foi o nosso Presidente, Anibal Cavaco Silva.

Graças a Deus que não falou na terceira pessoa do plural mas estragou logo tudo quando, em vez,  aplicou a primeira pessoa do plural - ESQUECEMOS - Nós, subentende-se!

- Nós quem Sr. Presidente?

Eu não esquecí e ainda cá estou. Nem eu nem o meu amigo Ernesto Minas. Muito menos este que perdeu a perna esquerda na tomada de força do seu tractor e ainda por cá anda!

Quem se esqueceu foram os estigmatizados, não os fisicamente como o Ernesto, pois estes transportarão a sua desgraça até ao cemitério.

Quem se esqueceu foram os estigmatizados mentais que por terem sido castigados em pequeninos a trabalhos forçados (???) nunca mais se quiseram  lembrar da agricultura com a agravante de, alguns deles, terem chegados a altos cargos da nação transportando consigo uma visão burguesa da humanidade e que por isso condenaram os vindouros ao betão e ao cimento armado.

Mas esses, tendo esquecido, morrerão sem remorsos.

A não ser que se trate de um pungente caso de contrição tardia!

Tone do Moleiro Novo numa tarde em que se achou sem pachorra para aturar tanto cinismo, tanta desvergonha, tanta cara de pau!