terça-feira, 30 de agosto de 2011

O CANTADOR DE MAZEDO

Eu prefiro chamar-lhe O ROMANCE DO CANTADOR DE MAZEDO.
Tanto para o personagem como para o contador do cantador.
Este texto publicado em 1947, no livro BODAS VERMELHAS, dedicou-o Pedro Homem de Mello a João Correia de Oliveira, decerto o irmão de António Correia de Oliveira e que veio a falecer, ás tantas não por acaso, em Esposende no ano de 1960.
O texto passa na nossa frente como se de um filme da tragédia do cantador se tratasse. As imagens dos primeiros versos lembram-me o VILARINHO. Toda a verbalização, em versos que rimam e tudo, flui no céu da boca como se de água e música se tratasse. E tantas vezes eu disse já este texto!
Nunca encontrei tanta singeleza e ritmo no encadeamento das palavras.
A vivência é a das noites, das romarias, das feiras do Alto Minho, onde tantas vezes os Deuses do crime e o do pecado se ensarilhavam com os humanos.

O ROMANCE DO CANTADOR DE MAZEDO.

Com sangue, sol e poeira
É que aprendera a cantar!
Mas, fôsse em adro ou em feira
Sua voz rimava inteira
Com sombras e com luar.

Mazedo é perto de Lara
E alí, alguém escutara
O que não soube guardar...
Depois, no forte em Cerveira
Canções de esfolhada e feira
Ainda eram sombra e luar!

E o Cantador de Mazedo
Não voltou a Valadares
E a Pinheiros também não,
Nem a Pias nem a Bela
Não voltou á Brejoeira
Nem à estrada de Monção

Passaram anos... um dia
Correu a fúnebre nova
De que morrera na aldeia
Quem por má hora levara
O cantador à cadeia

E o cantador de Mazedo
Que no cárcere cantara
E até na esmola colhera
Motivos para canções
Cheias de sol, de luar,
O cantador de Mazedo
Desta vez ficou tranquilo.
Não chorou. Não!


           - Mas esteve
Oito dias em cantar...

Romance é dor escondida
Como a desse cantador.

Eu não defendo nem ataco a vida!
Eu não defendo nem ataco o amor...

Mas Pedro Homem de Mello não se ficou por aqui. Conhecedor da paisagem em que os acontecimentos se desenrolavam, foi buscar à tradição e ás cantorias do Povo.

Já lá vai o sol abaixo
Já lá vai a luz do dia
Já lá vai o meu amor
Com quem eu m'adevertia

Ele é noite e o sol vai posto
E o meu amor não vem
Ou o mataram a ele
Ou ele matou alguém

Eu heide morrer d'um tiro
Ou d'uma faca de ponta
Morra hoje ou amanhã
Com isso já faço conta

A que AS DA CHÃOZINHA acrescentaram...

Eu quero morrer cantando
Já que chorando nasci
Eu quero ganhar na morte
O que na vida eu perdi!

Coisas que o tal de Mazedo muito bem poderia ter cantado!

LOPESDAREOSA

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

JOÃO AGUARDELA

JOÃO AGUARDELA

Não vou falar dos sitiados nem daquela vida de marinheiro e de poeta.
foto em http://musicaonline.sapo.pt/noticias/megafone_5_em_busca_da_nova_musica_tradicional_portuguesa


Vou falar do pau pra toda a obra de  Zé Zé Fernandes.
Vai para uma dúzia de anos que o vi e ouvi no Largo de Camões em Ponte de Lima.

Das noites inesquecíveis, das farras delirantes e das sangrentas bebedeiras, um testemunho único e genial.

No ano 2000 Zé Zé Fernandes editou um CD no qual incluiu O VINHO DA NAÇÃO que resultou num vídeo.
http://www.youtube.com/watch?v=yzRXdjRCZY4

Está lá tudo. Arcos de Valdevez. Ponte da Barca. A DOCA. O precursor do drifting   A tasca do Delfim. O próprio Delfim. E o vinho da nação que decerto seria verde. Vinhão às tantas!

Ao lado do lado histriónico do Zé Zé Fernandes a presença e a voz de Aguardela.
Daquelas presenças que passam. Mas que não passam!

Morreu em 2009. Se fue pronto como los elejidos, como dizem os nossos irmãos mexicanos. Nem quarenta anos tinha!

Pelo meio disto tudo aquele travo doce amargo da memória das noites gloriosas do Alto Minho. Peneda, Adro de S.João. Largo de Camões. Terreiro de Caminha. S. Bartolomeu na Barca. S. Lourenço da Armada. Santa Justa. Praça de Deu la Deu. Terreiro de Cerveira. Ribeira de Viana. S.Silvestre. S. Bento do Cando. Senhor do Bonfim Pequeno e...todas as outras!

LOPESDAREOSA

domingo, 21 de agosto de 2011

ADRIANO CORREIA DE OLIVEIRA

Contaram-me que um dia Adriano Correia de Oliveira pegou num disco de 45 rotações da Ronda Típica da Meadela e dele foi buscar dois temas que incluiu no seu álbum CANTIGAS PORTUGUESAS.

Um a ROSINHA serviu de fundo musical para um vídeo que encontrei no fenomenal youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=635L9mp6wEU&feature=related
Trata-se de uma colecção de fotografias das Feiras Novas de Ponte do ano 2008.
Os meus agradecimentos ao JOMARVAZ autor deste vídeo.

O outro tema foi o VIRA VELHO que também localizei no youtube colocado por GRABODI2010. Ver

Para além dos arranjos musicais sobressai o espantoso lirismo da voz de Adriano que nesse modo e desse modo, emprestou uma outra dimensão à estridência com que os temas populares costumam ser cantados no Alto Minho. Muito embora, no original da Meadela, já a voz da cantadeira transmitia uma modulação quase comovente, raridade numa terra em que o canto não costuma passar da flor da pele. 

LOPESDAREOSA

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A MUIÑEIRA DE SANTO AMARO

 Ouvir os Galegos faz-me chorar!
Espectador da TV Galiza dei por um programa chamado Alalá.
Qual não foi a minha surpresa de ver um grupo, que desconhecia, interpretar, numa taberna, a MUIÑEIRA DE SANTO AMARO, tema que também desconhecia. Maior surpresa por me aperceber, no meio do coro dos presentes, do TINO BAZ da Guarda. É o de boina com um lenço ao pescoço. Mais tarde em Gondomar assistí a uma actuação dos TREIXADURA finda a qual o seu leader me informou que tinha conhecido o TINO BAZ nas Festas do Monte em 1999, exactamente o mesmo ano em que lá estive e quando também encontrei o TINO pela primeira vez. Desse conhecimento se explica o convite ao TINO para estar presente no coro desta gravação.
Santo Amaro é em Janeiro. O de CAMPOSANCOS também. Por isso, pelo lacón con grelos e pelo vinho que me ofereceram este ano em Santa Trega, vou lá estar, no ano que vem, no dia 15. Também para ouvir tocat e cantar a muinheira.

LOPESDAREOSA

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A LEI DO BICO DO ÚBERE

"EUA: lei do teto da dívida aprovada por 269 votos"
Ver em
http://aeiou.expresso.pt/eua-lei-do-teto-da-divida-aprovada-por-269-votos=f665623

Afinal o AO faz maravilhas.
Bem, o acordo ortográfico tem destas coisas!
Desta vez acertou em cheio!

Lei do teto da dívida aprovada por 269 votos!
De facto ( e quase todos de fato) os americanos aprovaram a lei do bico do úbere onde irão mamar para pagar o que devem!

lopesdareosa

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

FRANCISCO PIRES ZINÃO

PENSAMENTOS  DO  AUCTOR

(O Zinão se visse o Acordo Ortográfico, rebolava-se como o jumento.)

Farto-me de imaginar.
Nas desgraças deste mundo
cada vez mais me confundo
E nada posso alinhavar!
Dizer que se hão de encontrar
Homens finos e de letras
Na relação dos patetas
E padres de sabedoria
Com a mesma sympatia
Eu não creio nessas tretas

Por mais que o desengano
Não se hão de capacitar
Por força hão de procurar
Livros de S. Cipriano!
Pois neste mundo tyranno
D'estes patetas tem tantos
Por essas minas d'encantos!
Já tem o mundo furado
E não se tem desenganado
pedindo a todos os Santos

Não tem achado um pataco
Mas dão cabo do que tem
Sempre a pensar que vão bem,
É d'um homem dar cavaco,
Por abrir tanto buraco,
Bebem água sempre, sempre,
E só o dão de presente
Ás sábias pr'adivinhar
Pelos montes sempre a andar
Sem achar ingrediente.

São uns parvos em teimar
Que ninguém os acaduma
Querem grilos da fortuna
Custem quanto lhes custar
Andam-nos a procurar
Por Galliza e Portugal
Quem engana um animal
D'esses deve ser premiado
Alguns dizem que é roubado
Eu digo que não há tal

Temos a nosso favor
A grande lei dos Romanos
Que só castiga os tyrannos
Que vão roubar em rigor;
Que aquele malfeitor
Que rouba em qualquer estrada
Ou que rouba de manada
Contra o gosto do roubado
Esse sim, é castigado
Pela lei determinada

Porém, o que tem roubado
Por indústria ou por arte
Sendo com gosto da parte
Esse não é castigado
Antes 'inda é premiado
Ou com muito, ou com pouco
Contrataram um com outro
É de lei esse contracto
Se no fim se vê roubado,
Vá aprender não seja louco.

Dizem que a usura é pecado
Eu digo que tal não há
Se não querem não vão lá
Pois ninguém é obrigado
Eu cá tenho bem guardado
O dinheiro que lhe dou
E ninguém os obrigou
Se pois querem florear
Porque lhe hão de pagar
Aquilo que se tratou?

As leis do juro antigo
Confesso que fosse bem
Que se dava um vintém
Por cada alqueire de trigo;
N'este tempo que estou vivo,
Já o vendi a quartinho;
Para que hei de dar caminho
De quatro mil e oitocentos
P'ra receber rendimentos
De tres quartilhos de vinho?

E para mais hei-de esperar
Um anno por esse pouco
É d'um homen se por louco
E depois ir-se enforcar;
Porém quem se quizer salvar
diz que assim há-de fazer
Eu não o espero de ter
Nem tão pouco de o dar
Antes o irei tomar
Se alguém o quizer perder.


OU SEJA; DIFERENTE DO TEMPO DO ZINÃO, SÓ MESMO O AO!

Lopesdareosa