segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NATAL

( Eu lembro-me de que)

Eu sou do tempo em que velhos eram os outros. Agora já posso dizer que sou do tempo em que o Natal era verdade. Do tempo em que a cristandade não tinha trocado o Menino Jesus pela Coca Cola. Do tempo em que as chaminés eram suficientemente largas para o Menino Jesus pudesse descer. Do tempo em que se espalhavam estratègicamente botas, sapatos e chancas pela lareira à espera que no  dia seguinte ao da Ceia aparecesse alguma coisa lá dentro. Agora concordo que é difícil o entendimento de que o Menino Jesus (muito menos o Pai Natal) consiga passar pelas redes dos filtros dos exaustores! Para entender tal coisa seria necessário pensar muito e isso não é coisa para estes dias. Já está tudo nos computadores e na Net.
Mas no meu tempo o Menino Jesus era verdade! Tão verdade que até o beijávamos na Igreja. Tão verdade que um ano, deixou uma grande penca nas chancas de ir ao mato que a minha madrinha tinha posto na lareira.
Tão verdade que um ano deixou uma ceia completa na sala de jantar da Casa do Bem-te-Ví e da Maria da Lifonsa. Couves roubadas na veiga de Areosa, bacalhau e azeite do Perrito, batatas do Moleiro Novo, vinho da Labruja, broa de Afife e por aí fora.
E como aquele bacalhau, aquelas batatas, aquelas couves, aquele azeite, eram diferentes naquela noite com toda a gente à volta da mesa! quando afinal eram bacalhau, batatas, couves, azeite iguais ao do resto do ano, vindos exactamente da mesma veiga, do mesmo mar e da mesma venda de sempre.
Do Natal e só do Natal, eram os pinhões, as nozes, as avelãs, os figos secos e as rabanadas.
Bem, a celebração repetia-se na noite de passagem de ano e na noite de Reis que, de uma forma surpreendente, coincidia com a altura em que na Igreja de Areosa, os Reis Magos, em cima de camelos, chegavam à cabana do Menino Jesus, no presépio.  Milagre da Igreja de Santa Maria de Vinha de Areosa que nada tinha a ver com os de Fátima!

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