quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

QUIM BARREIROS


Bem, este não é o Quim Barreiros! É o Bruno Nogueira na foto de promoção do seu Lado B. Assim sendo pode deduzir-se que o Lado A será o anterior.

Dizem para aí que não passa de uma paródia ao que o Zé Cid fez na década de noventa e que aqui vai:
Quanto a esta obra prima que poderia ombrear com a Grécia antiga se na altura houvesse máquinas fotográficas em vez de maços e cinzeis, também dizem para aí que se tratou de um protesto contra a não divulgação da música portuguesa para a qual o nosso José Cid estará da mesma forma que o Elton John, Bruce Springsteen e John Miles estarão ( todos ao mesmo tempo) para a música Anglo Saxónica.

Aqui foi  Morrissey que quis dar uma de original.

Mas desiludam-se meus senhores! Mesmo despidos não vestem a camisola amarela!
Muito antes de conhecer o José Cid e muito mais antes de conhecer o Bruno Nogueira, e muito antes de Morrissey conhecí eu o  Quim Barreiros.

Tocava acordeon no Conjunto Alegria de seu Pai o Joaquinzinho. Por volta de 1962, 1963 aprendí a dançar, nos bailes da Sociedade de Areosa, ao som da sua música. Tempos Gloriosos. 

Ora o Quim Barreiros lançou a sua carreira a solo já na década de setenta.
Depois de já ter gravado vários LPs instrumentais entre os quais em 1971 (Música Tradicional Portuguesa) com o guitarrista Jorge Fontes, que até era de Gaia ( morreu no passado Janeiro), o Quim gravou um EP de 45 rotações no qual pela primeira vez cantava neste tipo de gravações. Neste EP estão dois temas gravados anteriormente por  um cantador e tocador de concertina de Gondinhaços. O Manuel Branco de Azevedo. Eram O CONVITE e a TRUTA. Isto passou-se por volta de 74/75. 

Ora vejam aqui como é que o Quim se apresentou na capa  desse disco e digam-me quem foi o precursor!

E façam o favor (salvo seja!) de reconhecer que o Quim é um grande artista. E só desdenha quem não sabe quão popular sempre foi e o tempo que ele já tem de carreira. Seguramente cinquenta anos! Um dia, vai aí para uma dúzia de anos atrás, num programa do Herman José, pelas festas dos Santos Populares em Lisboa, estava presente a Maria José Valério.                                           O Quim entrou em palco e o Herman tentou apresentá-los um ao outro.                                                                                                                             -Não sei se conheces aqui a Maria José Valério. Perguntou ao Quim!                                                                                                                                                                                                                        - Óh! Herman, então não conheço. Em 1964, tocava eu concertina no Rancho de Santa Marta, numa gala no Casino Estoril, estava lá fulano e beltrano...! A Maria José Valério confirmou e o Herman fechou a matraca! É que muito antes do Herman aparecer já o Quim Barreiros era gente.                                     Miniatura
Com as minhas homenagens e umas certas saudades dos tempos em que no Carnaval se comiam os chouriços por detrás do palco.                  
                                          Lopesdareosa

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

KEPA JUNKERA

Ouvi falar dele numas notícias sobre o InterCéltico do Porto ainda em mil novecentos e oitenta e tal.

Depois em 1994 presenciei pela primeira vez na minha vida do que eram capazes os tocadores      tradicionais Bascos de Trikitixa. Foi em Arsèguel, o Epelde no acordeon e o Emanol Iturbide na pandeireta. Uma parelha como eles lhe chamam no País Basco

Lau Eskutara, Júlio Pereira
Daí entendí porque é que no meio desse meio apareceu o Kepa Junkera. Tinha toda uma tradição trás de sí. Mas Kepa enveredou por outros caminhos que o fez cruzar com o nosso Júlio Pereira. E daí que no  ano de 1995 tenham editado um CD a que chamaram Lau Eskutara, As Quatro Mãos. Em 1996 e outra vez em Arsèguel encontrei o Dani Violant de Barcelona (Tocava uma Bertrand Gaillard de três carreiras) que tinha assistido à gravação deste CD em S. Sebastian




CD cover
Por volta de 2000 encontrei-me pessoalmente com Kepa Junkera. Veio à FNAC no Norte Shoping apresentar o seu album Bilbao 00H00. Aproveitei para lhe falar nas concertinas nos encontros e também na possibilidade de um dia participar num desses eventos. Mais tarde estaria no Sá de Miranda, em Viana, por ocasião de um encontro de concertinas promovido pelo INATEL.
Mas na FNAC aconteceu um detalhe curioso. Informei o Senhor Nogueira e seu filho Ruca da vinda de Kepa e eles  
apareceram na FNAC para assistir ao concerto. No fim juntámo-nos todos e contámos ao Kepa Junkera que o Senhor Nogueira construía concertinas de raíz. Kepa mostrou interesse em ver uma e o Ruca foi ao carro por ela. Depois o Kepa Junkera pegou na concertina do Senhor Nogueira e deu uma passagem de dedos pelo teclado.











 





















Dessa ocasião duas imagens.

Uma da actuação do grupo de Kepa Junkera onde não faltava a Txalaparta e um baixista, salvo erro argentino, que tocava o contrabaixo aos saltos.

E outra do instante em que Kepa Junkera experimentava a concertina do Senhor Nogueira.

Mais tarde, já em 2005 e (sempre) em Arseguèl voltei a encontrar-me com Kepa Junkera. Desta feita nas comemorações dos 30 anos do Festival, quando lá participei com AS CHÃOSINHA DE GONDARÉM.
Pelo meio acabei por conhecer outros e fantásticos Tocadores Bascos, de uma vertente mais tradicional, a quem um dia voltarei nestes sítios. 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

ECOLOGIA À GALEGA

Texto Publicado na A AURORA DO LIMA em 27 de Outubro de 2000

ECOLOGIA  À  GALEGA

No dia 28 de Julho último, passava eu em Soutelo de Montes, ( Terra dos Cachafeiros) a caminho do Carvalhinho, na vizinha Galiza, me quedei no Rincon, meu conhecido de paragens anteriores, para tomar um
café.


Monumento a Avelino Cachafeiro
20070813170600-a-gaita-do-fol-curso-soutelo-por-casado-2.jpg  

(Aqui três imagens, duas do monumento aos Gaiteiros em Soutelo de Montes, outra dos próprios Cachafeiros na sua época.)

Na ocasião, já uma da tarde, vi no telejornal da TV Galega, uma reportagem sobre a colónia de gaivotas de que os de Vigo apresentavam diversas queixas quanto à quantidade daquelas, como do incómodo das sobras das ditas que maltratavam as pessoas, as roupas, os carros, os edifícios, Etc.
Diversos testemunhos foram ouvidos quanto ás causas da explosão "demográfica" de tais alados bichos, da facilidade de sustento, das quantidades de lixo espalhado à disposição dos mesmos e, principalmente, do modo de controlar tal "praga". A esta altura o "Pivot" do Telejornal informou que uma empresa da Corunha se tinha disponibilizado para fazer a recolha dos ovos das gaivotas nas épocas de nidificação e assim, controlar a multiplicação das mesmas.
Achei a ideia peregrina (não estivesse eu nos caminhos do Grande Apóstolo) e disso dei a saber ao castiço que me tinha atendido ao balcão.
E expliquei porquê!
É que, em Portugal, e desde tempos imemoriais, os de Peniche tinham por tradição ir aos ovos de gaivotas nas Ilhas Berlengas e dessa forma restringiam a capacidade de as gaivotas se reproduzirem. Ora aconteceu
que em determinada altura, as Berlengas foram consideradas Reserva Natural e a prática de recolha de ovos foi abandonada, se não mesmo proibida. Mesmo a deslocação às ilhas foi condicionada. Uma das consequências, também, mas não só por isso, foi o facto de a colónia das gaivotas ter aumentado de tal maneira que acabaram de se sobrepor a outras espécies como; airos; (uuria aalgae) lagartos (lacerda lépida), para além de causarem na região os mesmos problemas que se estavam a verificar em Vigo.
Ora aqui chegados é que poderemos entender o erro  em que os nossos amigos galegos estão a incorrer.
É que, para controlar a expansão da colónia de gaivotas nas Berlengas, as autoridades não lhes foram roubar os ovos. Aliás pilhar os ovos às gaivotas seria um atentado ao instinto maternal das coitadinhas e ao seu inalienável direito de se reproduzirem. O que os portugueses fizeram foi deixá-las pôr os ovos à vontade.
Deixá-las nascer à vontade e depois envenenaram-nas.
Mas não foi com DDT, nem com hexóxido de arsénico, nem com cianeto de potássio, nem com remédio de escaravelho! Foi com DRC-1339 um avicida que afecta quase exclusivamente os larídios (gaivotas), sendo os seus efeitos noutras aves apenas sentidos pelos melros (turdus merula) e pelo estorninho-preto, (sturnus unicolor) inexistentes no local. Outra característica do tal DRC-1339 é que não afecta quem o aplica ou seja o Turdus Suturnus.
Ora como os meus caros leitores estão a ver, o envenenamento é um procedimento muito mais humano. Tanto mais que os bichos acabam por morrer de insuficiência renal ao fim de dois a três dias. Ou seja morrem à sede, que, como toda a gente pode entender, é muito melhor que morrer de um tiro, de aborto ou de uma estocada.
Como sou muito dado a estas coisas da natureza e também porque gosto muito dos galegos, vou ajudá-los na sua necessidade de extermínio das gaivotas. Como tenho em meu poder o recorte do jornal que dá notícia desse, mais um, dos portugueses para a evolução científica - no caso o aperfeiçoamento dos métodos do Hitler, neste caso aplicado às gaivotas-vou desse recorte enviar uma cópia ao Alcalde de Vigo. Não só o ajudo na ideia como lhe forneço o nome dos responsáveis portugueses que estão invocados na notícia, com quem eventualmente poderá contactar para mais pormenores técnicos.
Enfim! Mais um contributo do Lopes de Areosa ( para além da muinheira minhota) para o estreitamento das relações Luso-Galaicas.

António Alves Barros Lopes

NOTA DE HOJE
Lembrei-me de uma coisa.
Cuidado que ainda matam o Fernão Capelo.
Fernão Capelo Gaivota
foto de Paulo Jorge A.C.Pereira
em http://olhares.aeiou.pt/fernao_capelo_gaivota_foto825971.html

domingo, 26 de dezembro de 2010

OCHY CHYORNYE

OCHY CHYORNYE



( Título de uma canção Russa. Quem quiser saber o que significa que vá ao dicionário. Mas não sei se se safa. (O melhor é ir à Net )


            - Como poderia oferecer-lhe um livro se não o escrevesse?

( Por outras palavras)

            - Como poderia escrever um livro se não lh’o oferecesse?

( Afinal saiu outra coisa com as mesmas palavras)

AO RUI BARROS DE AFIFE

 O RUI BARROS

Com quem compartilhei alguns pedaços da minha  adolescência.
Fazia observações que deixavam a minha incompreensão atrapalhada.
Mais tarde apercebi-me da gravidade da situação que desde há muito  germinava.
O Rui passou-se para o outro lado de si mesmo. 
Para o outro lado de todos nós.
Quem se lembra  das gravações antigas do Rancho de Afife  tem ainda nos ouvidos a canção do  Rui.

       Meu coração anda triste
           porque foi abandonado
               É triste, meu Deus é triste
                   Amar e não ser amado

Ao que os companheiros respondiam no desenleio dos tempos despreocupados.

                        - Chora! Chora!
                                 E a mim que se me dá!

                                    - Ó tim tim ora vira vira!
   
                                         - Ó tim tim ora vira lá

Ironia das ironias. Na tragédia, nem os coros gregos conseguiriam melhor!



Em cima, na Senhora da Cabeça, em Freixieiro, nos finais dos anos sessenta. Encostado ao    pinheiro, o Aires da Mariana. À sua direita o Rui Barros. Na frente o Matias de Âncora ou seja, o Vasco da Sereia. O outro, eu, que era assim e já tinha dificuldade em respirar pelo nariz.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

MARIA MANUELA COUTO VIANA

Transcrevo aquí o ROMANCE DO RAPAZ DE VELUDO no qual Maria Manuela Couto Viana se despede, numa última e derradeira visita à sua terra e ás suas gentes.


ROMANCE  DO  RAPAZ  DE  VELUDO

 de Maria Manuela Couto Viana

"O mar de Afife levou-o
  E trouxe-o de volta à praia.
Foram três dias de argaço,
Três noites de verde raiva.
  Quando o vulto da Estadeia
Se ergueu das bandas de Espanha,
            O vento espalhou a angústia
         E a lua escondeu a cara.
         Em sudário de crespelho
(Cor de sangue e viva brasa)
Jaz o rapaz de veludo
À espera da madrugada.
Sobre o olhar ambarino
Cortinas de longa franja;
Sua boca é uma ferida,
Amarga flor de genciana
- Flor da Senhora das Neves
A da Sagrada Montanha;
Sobre o seu peito redondo
Fio e coração de prata;
O cabelo é palha milha,
Folhelho na desfolhada.
A onda que o embalou
Aconchegado nas algas
Deu-lhe ao corpo de veludo
Um movimento de dança:
A gota de Gondarém
Ou Verde-Gaio de Armada.
Todo o seu corpo macio
Rebrilha como uma chama
Ou espelho de aço fino
Frente ao Sol que se alevanta
Quem vela e chora esse corpo?
Quem o beija? Quem o canta?
Quem é que o acaricia,
Quem sofregamente o enlaça?
Que vulto o círculo mágico
Silenciosamente traça?
Poetas do mar  de Afife
E fandangueiros das Argas,
Boieiras da verde veiga,
Resineiros da Estorranha,
De meio-lenço amarelo,
Cachené cor de laranja
E o avental vermelho
Com a saia de vergastada.
Por isso grito: - Presente!
Como poeta e amada,
Poeta dos mares de Afife,
Amante das noites claras,
A sombra da sua sombra,
A alma da sua alma,
O eco do seu gemido,
O lençol da sua cama.
Viva-morta em mortos-vivos
A responder à chamada
Com o grito da Pieira
De lobos na noite trágica.
Frementes, meus pés desnudos
Pedem terreiro de dança.
Abraçado à concertina,
O Marco Rocha comanda.
Cantava a encomendação
Deolinda da Castelhana,
Enquanto com seus cabelos
Enxugava as minhas lágrimas


E vi que o Nelson de Covas
Já tinha a madeixa branca
                          E que o bailador perdera
A sua estranha arrogância;
Que era de velhos e mortos
Essa velada macabra.
Só o rapaz de veludo
Tinha sua face intacta
Brilhando no amanhecer
Como concha nacarada.
Fugi gritando nas brumas,
Nas dunas de areia branca.
Em leito de camarinhas
Acordei na manhã alta.
Ai, o rapaz de veludo
Minha noite de Ameaça
O meu punhal de ciúme,
Só não sei se foi o mar,
Se fui eu que o matara"

Toda a Serra d'Arga está aqui. De Cerveira a Ponte de Lima e mais além até S. Lourenço no Beiral. De Gondarém ao Cerquido. Todo o Mar de Afife está aquí. Todas as pedras do mar de Afife estão aqui. Desde Camposancos até Viana. Todos os rapazes de veludo que são exactamente os mesmos do cravo na boca de que fala o Dr. Pedro na sua dedicatória ao Vilarinho.  O Vale de Âncora. As idas a S. João. Espantar da Senhora Deolinda da Castelhana. As Chascas de Trazancora e a Procissão de Defuntos. Dem, Terras da Montaria. Marcos Rocha que morreu de morte matada.  Maria Manuela Couto Viana ainda deu conta que o tempo tinha passado e que a madeixa do Nelson já era branca e que já tinha perdido aquele jeito desafiador. Todos os herois da obra de Dr. Pedro se encontram aqui. Gente que passaria anónima na vida sem saber porque a vivia não fora o lirismo dos poetas nisso reparar. Elevação essa tantas vezes repartida com Maria Manuela Couto Viana nas mais variadas manifestações. Na poesia, nas récitas. Eu próprio a vi, vestida de Azul, dizendo os versos MINHA TERRA É VIANA na Praça de Argaçosa na apresentação de um Festival da Meadela.
Este Romance do Rapaz de Veludo,  poema um tanto ou quanto enigmático, dificilmente será entendido por quem não nasceu nem frequentou neste e este  pedaço do Alto Minho. Muito menos por aqueles que defendem, em tese, que o Povo a que o Dr. Pedro se referia nunca existiu!
 
Nota em 26 de Agosto de 2016.
Reli este texto e nele encontrei uma falha grave. Por omissão!
O rapaz de veludo poderia também ser  Francisco Enes Pereira, do Lugar de Montedor, que o sudário de crespelho do mar dos  Açores envolveu. Afogado. A quem o Doutor Pedro dedicou um texto que intitulou simplesmente FRANCISCO!
 
lopesdareosa

ENTRONCAMENTO. História da vianeta ferroviária

Nos finais dos anos oitenta, no verão, passava umas temporadas no Fundão.
Mais precisamente em Castelo Novo. Nada de mal não fora o facto daquilo na Beira Baixa, nessa época do ano, ser o que para mim seria o cenário de um anúncio ao inferno.
Para mim, minhoto tiritante, era calor de mais e um dia resolvi encurtar as férias e regressar tomando o comboio da Beira Baixa até ao Entroncamento.
Cheguei à cidade fantasma, como eu lhe chamava  (dado que por essas alturas chegava lá pelas seis da manhã), dos tempos do Regimento de Páraquedistas em Tancos, ás nove e tal da tarde. Tinha que esperar pelo comboio vindo de Lisboa para seguir para norte e, como o calor continuava, nada me apetecia comer. Até que acabei por me sentar numa esplanada de um Café-Bar que tinha um cartaz aos gelados Olá a dizer que havia vianeta. Achei a boa a ideia e pedi uma vianeta à miúda que me veio atender.
Estranhei a demora até à surpresa de me trazerem, em primeiro lugar, um talher completo. Prato, faca, garfo e colher. Depois veio a travessa com uma vianeta  descascada. Inteira!
Não me dei por achado, nem por cobarde, até porque estavam uns pândegos a beber cerveja e a comer tremoços na mesa ao lado que decerto não teriam ficado menos surpreendidos que eu. E resolvi dar uma de forte face aos olhares divertidos que eles deitavam à minha mesa e aos comentários que adivinhava estarem a ser feitos acerca da situação. Assim comecei a desfrutar da minha vianeta.
Comi! Comi! Comi! Até que o calor foi mais veloz que a minha vontade e acabou por derreter o resto da vianeta ainda antes de eu a ter acabado. É evidente que depois de cerca de meia hora a lutar com a vianeta fiquei enjoado e cheio de sede com aquele sabor doce ás natas e chocolate. Quem gozava com a paisagem eram os meus amigos da cerveja!
Até que chegou a hora de pagar a conta. Foram duzentos escudos o que não foi mau negócio pois foi por atacado. Se fosse ás fatias teria pago muito mais! Dei uma nota de mil à miúda e esperei pelo troco. Quem me veio dar o troco foi uma senhora de mais idade possivelmente dona do Café. Sempre como se nada de anormal tivesse acontecido e já com o troco na mão acabei por dizer à senhora.

- Minha senhora! Lá comer como eu! Mas que a minha fama tinha chegado ao   Entroncamento é  que eu não sabia!

A Senhora ficou presa ao dito e lá alinhavou.

- O senhor é que pediu!

- Da mesma forma como tenho pedido em muitos outros lugares.
  O que nunca me serviram foi uma  vianeta inteira!

Bem! Os meus amigos da cerveja, que já tinham uma dúzia delas abatida, rebolaram-se nas cadeiras com as gargalhadas que deram. Tiveram tanta pena de mim que me convidaram para beber uma cerveja. Desculpei-me que tinha que apanhar o comboio e fui dali a outro café beber uma garrafa de água gelada. Para cortar!
Passei o resto da viagem a pensar na cena. Eu! Sozinho!! No Entroncamento!!! A comer uma vianeta inteira!!!!

- Só a mim!!!!!
E que seria uma boa história para contar aos amigos.
De facto! Assim tem acontecido.

Tone do Moleiro Novo

NOTA
Já repararam que a autoria vai variando com os acontecimentos?
O Fernando Pessoa tinha heterónimos, cada um com identidade própria, que iam interpretando a realidade segundo ideossincrasias perfeitamente individualizadas e personalizadas pelo autor.
Aqui tratam-se de heterónimos ao avesso. Ou seja, aqui o ortónimo são os acontecimentos que vão definindo a qual de mim é que são dirigidos.
Difícil entender?
Por exemplo:
- Quando uma mulher afirma que morre por mim, é ao Tone Lopes lorpa que o garante.
- Quando minha mãe me diz alguma coisa é ao António inteligente que se dirige.
-  Quando o Cavaco Silva fala à nação, o cidadão Barros Lopes passa a burro.
- Quando toca a pagar os impostos, tanto faz que seja o Tone Lopes lorpa ou o Barros Lopes burro!
Não sei se estão a ver a coisa!
Assim, António Alves Barros Lopes, Lopesdareosa, Barros Lopes, Alves Barros (como sou conhecido na Catalunha e País Basco), Tone Lopes, Tone do Moleiro Novo, ou simplesmente o António ou o Lopes, são a mesma pessoa. Depende das circunstâncias. O Tone do Moleiro Novo é quando me acontecem  situações como o do Entroncamento!
( Sem qualquer ofensa para as suas gentes tanto menos que, na ocasião, os presentes, vieram piedosamente em meu socorro)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NATAL

( Eu lembro-me de que)

Eu sou do tempo em que velhos eram os outros. Agora já posso dizer que sou do tempo em que o Natal era verdade. Do tempo em que a cristandade não tinha trocado o Menino Jesus pela Coca Cola. Do tempo em que as chaminés eram suficientemente largas para o Menino Jesus pudesse descer. Do tempo em que se espalhavam estratègicamente botas, sapatos e chancas pela lareira à espera que no  dia seguinte ao da Ceia aparecesse alguma coisa lá dentro. Agora concordo que é difícil o entendimento de que o Menino Jesus (muito menos o Pai Natal) consiga passar pelas redes dos filtros dos exaustores! Para entender tal coisa seria necessário pensar muito e isso não é coisa para estes dias. Já está tudo nos computadores e na Net.
Mas no meu tempo o Menino Jesus era verdade! Tão verdade que até o beijávamos na Igreja. Tão verdade que um ano, deixou uma grande penca nas chancas de ir ao mato que a minha madrinha tinha posto na lareira.
Tão verdade que um ano deixou uma ceia completa na sala de jantar da Casa do Bem-te-Ví e da Maria da Lifonsa. Couves roubadas na veiga de Areosa, bacalhau e azeite do Perrito, batatas do Moleiro Novo, vinho da Labruja, broa de Afife e por aí fora.
E como aquele bacalhau, aquelas batatas, aquelas couves, aquele azeite, eram diferentes naquela noite com toda a gente à volta da mesa! quando afinal eram bacalhau, batatas, couves, azeite iguais ao do resto do ano, vindos exactamente da mesma veiga, do mesmo mar e da mesma venda de sempre.
Do Natal e só do Natal, eram os pinhões, as nozes, as avelãs, os figos secos e as rabanadas.
Bem, a celebração repetia-se na noite de passagem de ano e na noite de Reis que, de uma forma surpreendente, coincidia com a altura em que na Igreja de Areosa, os Reis Magos, em cima de camelos, chegavam à cabana do Menino Jesus, no presépio.  Milagre da Igreja de Santa Maria de Vinha de Areosa que nada tinha a ver com os de Fátima!

sábado, 18 de dezembro de 2010

What Did You Learn in School Today?

 Li qualquer coisa sobre o tal wikileaks e vejam só o que me veio à cabeça!

What Did You Learn in School Today?

Letra e Música de Tom Paxton

What did you learn in school today, - O que é que aprendeste hoje na escola                      

Dear little boy of mine? - Meu rapaz

What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?

I learned that Washington never told a lie.- Aprendí que Washington nunca mente

I learned that soldiers seldom die. - Aprendi que os soldados raramente morrem

I learned that everybody's free. -Aprendi que todos somos livres

And that's what the teacher said to me. - Foi o que o professor me disse

That's what I learned in school today.
That's what I learned in school.
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
I learned that policemen are my friends. - Aprendi que todos os polícias são meus amigos

I learned that justice never ends. - Aprendi que a justiça nunca acaba

I learned that murderers die for their crimes.- Aprendí que todos os assassinos morrem pelos seus crimes

Even if we make a mistake sometimes. - Mesmo que alguns morram por engano

That's what I learned in school today.
That's what I learned in school.
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?

I learned our government must be strong. - Aprendi que o governo deve ser forte

It's always right and never wrong.- Que o governo está sempre certo e nunca errado.

Our leaders are the finest men. -Que os nossos lideres são homens sérios

And we elect them again and again. - E que temos que os eleger sempre e mais vezes

That's what I learned in school today.
That's what I learned in school.
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?
What did you learn in school today,
Dear little boy of mine?

I learned that war is not so bad. - Aprendemos que a guerra não é assim tão má

I learned of the great ones we have had.- Já tivemos algumas mesmo grandiosas

We fought in Germany and in France. - Já combatemos na Alemanha e em França

And some day I might get my chance. - E algum dia teremos a nossa oportunidade

That's what I learned in school today.

That's what I learned in school.

NOTA
Quem quizer ouvir clique aqui para a versão de Peter Seeger no Youtube
Tentei inserir aqui o vídeo mas o raio da maquineta é mais esperta que eu!

ANTÓNIO RIVAS

Estão ao lado uma da outra e apenas os dez anos as separam. Nunca a amizade. Essa expontânea logo no primeiro encontro em 1994 em Arsèguel na Catalunha. Pela primeira vez os meus olhos espantados viram um acordeonero colombiano tocar, cantar e dançar Vallenato. Ao vivo alí em frente a nós todos. Pelas 3 horas da manhã na Praça de Castellot tocou a GOTA FRIA no bar mais acima. Pôs todo o mundo a dançar. Cinco anos mais tarde esteve conosco em Vila Nova de Cerveira no encontro de tocadores de concertina onde o Vilarinho foi homenageado. Mais tarde esteve em Ponte de Lima. Várias vezes veio a Portugal integrado nas iniciativos dos de D'ORFEU em Águeda. Quem quizer saber mais sobre essa gente dê uma volta pela net em VALLEDUPAR que é uma coisa assim como Ponte do Lima lá do sítio. Tem uma estátua ao acordeonero tal como por cá a estátua ao tocador de concertina. 

Kepa Junkera com António Rivas em 1989. Em Chateau de Pluvy, França




lopesdareosa

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ALALÁ DAS MARINHAS

Quem não saiba o que é, que o leia.
Quem nunca ouviu que o ouça

E se o arrepio na espinha permitir, que o compreenda.


Santalices, nunca a Galiza foi tão profunda.
Por terras de Orense por onde o Minho e o Lima se preparam para também serem Minhotos sem deixarem de ser Galegos, em dias de brétema, é possivel escoitar a sua voz pelas ladeiras no cantar das águas que os alimentam..




"Tenho unha casinha branca
 na Marinha entre loureiros
 Tenho paz e tenho amor
 Estou vivindo no céo

Ailalaailalalaailalaailalala...

Adeus ó minha casinha                        
Portelo do meu quinteiro
auga da minha fontinha
sombra do meo larangeiro"

Ailalaailalalaailalaailalala...

A ZANFONA

Son cinco cordas que cantan,
que suspiran, rin ou choran,
son a alma de Galicia
morriñenta e soñadora.

Ao seu compás os xograres
trobando en lingua galaica,
fixeron do latín rudo
a nosa "galega" fala
Faustino Santalices

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

ANIVERSÁRIO

24  DE  SETEMBRO  DE  1983


Cruzámo-nos a caminho do Cálvário.
Perguntei-lhe:
- Já alguma vez me ouviu cantar?
Disse-me que não.
- Posso cantar-lhe uma canção?
Sem esperar resposta trauteei

- Happy birthday to you
- Happy birthday to you... e por aí fora!

E ofereci-lhe a minha prenda de anos. Uns brincos redondos, em prata.
Não eram bem bem argolas mas quase!
E uma dedicatória. Das POESIAS ESCOLHIDAS do Dr. Pedro, editadas no verão desse mesmo ano, uma fotocópia das páginas 198 e 199 com algumas anotações, azuis, de circunstância. Minhas.
Não viu ali a minha oferta. Nem depois desse encontro comentou. Mas sei que da dedicatória gostou e que aos brincos achou graça!

sábado, 11 de dezembro de 2010

ROMANCE DO SENHOR DA SERRA

Senhora das Neves

“Nas fraldas da Serra d’Arga
  É  que fica minha aldeia
  A Freguesia de Dem
  Onde o meu amor passeia

    Ó Senhor da Serra
    Eu da Serra sou
    Eu cantar não sei
    Eu bailar não vou"

É em Dem nas fraldas da Serra D’Arga. Um dos meus sítios preferidos para lavar a alma. Vezes houve que voltei de lá com ela mais negra do que a levei. Pensamentos, imagens, pessoas, cruzam-se e fundem-se como se à paisagem pertencessem. Esta transcende o meramente pictórico para tomar outros significados.
Por detrás e acima sei que lá está a capela do S. João, das cerejas e do 28 de Agosto. Na frente dos meus olhos a foz do Minho com o monte de Santa Tegra de sentinela ao estuário. A Festa do Vinho e a subida ao monte no segundo domingo de Agosto, quinze dias antes da noite grande das Argas. Estive lá nesse ano. Encontrei o Tino Baz o gaiteiro d‘A Guarda. Fora em Santa Tegra o nosso primeiro encontro. O encontro do conhecimento. E de lá avistei a Serra de Arga e o seu Senhor. Imagem que me surge interessante. Dois lugares míticos tão próximos um do outro, à vista um do outro. Por isso agora aos meus ouvidos chegam os sons das gaitas galegas misturados com ecos de concertinas. De um lado se vê o outro numa simetria assimétrica como se estivéssemos a olhar para um espelho que reflecte uma imagem igual mas diferente da original. De lá, Montedor, Afife, Ancora, Moledo Cristelo Azevedo Venade Argela, Seixas, Lanhelas, Gondarém a ínsua, Caminha. O Tino sabe onde é a Serra d’Arga e aponta na direcção correcta.
Hoje estou do lado de cá. E o cá é o monte da Senhora das Neves. Azevedo, Venade, Caminha o Rio, Campos Ancos, A Guarda
O eixo dessa simetria é o Rio Minho, o rio do Nosso João Verde e logo me surge a visão da sua figura ali em Monção, naquele larguinho... (Só nunca entendi porque é que o colocaram de costas para a Galiza)
Ares da Raya é o que sinto. E do livro esta linda quadra.

“O temporal já foi tanto
O rio saiu do leito
Assim sucede ao meu pranto
Se a dor não cabe no peito”

A isto responderiam os das Argas

“Meu amor se tu soubesses
Da dor do meu coração
Eu antes queria morrer
Que sofrer esta paixão”


Mas a água corre pró rio e o rio corre pró mar.  Corrente de sentido único. E olho o mar, aquele mar da Foz do Minho, que é afinal o de Afife, ou de Areosa em frente ao qual eu nasci. Nasci em frente às Bógas.

Da sabedoria ancestral:

– “O mar não tem cabelos!”  

      ( sempre ouvi dizer para não me aventurar tanto a desafiá-lo)

         uma outra vertente

“Nas ondas do teu cabelo
  vou-me deitar a afogar
  Para tu que saibas amor
  Que há ondas sem ser no mar.”

No entanto sei outras coisas; que o mar tem pêlos. Pêlo vermelho, pêlo preto. Tanto a minha madrinha recolheu, – nas bogas, na Camboa Funda, na Camboa do Limo,  em frente às quais eu nasci -  secou para vender. O vermelho era o que dava mais dinheiro. Daqui resultou um trocadilho em cima da quadra anterior. Uma brincadeira.

Vou-me deitar a afogar
Nas ondas dos teus cabelos
Pra que  saiba  no amar
Que nem só no mar há pêlos
                                                                                    
Enfim!!!

E a imaginação continuará no

ROMANCE  DO  SENHOR  DA  SERRA


O vento do fim de tarde
Em Setembro sopra leve
Vento da felicidade
Quando passa é tão breve
Vento da felicidade
pelos cabelos seguro
o vento não tem cabelos
a tormenta tem futuro

dizem que não tem cabelos
que não se podem amarrar
dizem - não  pode esquecê-los -
amores ao pé desse mar

dos amores em certa praia
dos amores em certo monte
dessa história que os conte
espero que o livro não saia

que sejam sempre esquecidos
como se não os houvera
os lamentos e gemidos
não falam de Primavera
perdidos na Serra D’Arga
os amores da mocidade
não foram perdidos na era
foram perdidos na idade

Perdido na cerração
No meio do naboeiro
Ao chegar a S. João
Estava lá meu coração
Tinha chegado primeiro
Já tinha passado a serra
Pra lá da chã do Guindeiro
sete serras já passara
Para chegar ao terreiro
Do Adro de S. João

( Os meus passos de romeiro
   todos os anos lá vão)

e nesta peregrinação
não encontro o aguadeiro
dos tempos que já lá vão

Água doce com limão
Para matar no caminho
A sede do caminheiro
(A sede que vem do chão)

"Abaixai-vos carvalheiras
com os ramos para o chão
deixem passar os romeiros
que vão para o S. João"

( E os ranchos iam passando
nos tempos que já lá vão)

E a brisa lá fora mansa
dentro de mim é nortada
Vendaval que tudo arrasa

Vou abrigar-me na casa
Que não me abriga de nada

Na casa das mil janelas
Quantas as recordações
Galáxias, constelações
Muitas mais que as estrelas
Muitas mais seriam elas
Mais que os buracos nas telhas

Mas já cai a tarde fria
tirita a alma na dor
donde virá o calor
que certa dor alivia

gaita grileira vizinha
do Minho, rio sagrado,
vai cantando ao meu lado
vai alegrando a tardinha

Galiza minha Galiza
Olho p’ra ti nesta hora
Sinto a videira que chora
Que não mata mas avisa
Galiza minha Galiza
Dos prantos assolagados
Dos carreiros ensombrados
Leva a sombra dos meus olhos
Meus olhos esbagaçados

Os meus olhos não os quero
Sem que vejam meu desejo
Sem que tenham o ensejo
De ver na vida o sincero.
Não sou alto nem austero
Nesta minha pretensão
É muito pobre o que quero
Por isso peço perdão
De não ter espaço, o que guardo,
Dentro do meu coração

 lá dentro não caberá
A minha humilde alegria
Sentida naquele dia
Em que a alegria foi vã
E logo pela Manhã
Subi ao Senhor da Serra
O local onde se encerra
O eco dum  alalá
Pelos altos se ouvirá
Um grito de concertina
A resposta que dará
Este lado rio acima

Esclarecimentos

A humilde alegria é a mesma de Cuesta Abajo

“Sabia,
  que en el mundo no cabia 
 Toda la humilde alegria
 De mi pobre coraçón”

A casa das mil janelas são dos versos AFIFE de Pedro Homem de Mello

“Ó Casa das mil janelas
  Das mil noites estreladas
  Berço de longas estradas
  Poeta,  fiei-me nelas”

E o próprio Dr. Pedro  conheceria  aquela antiga lenga-lenga

Casa de meus pais
Casa das trinta janelas
Muitas mais seriam elas

Na minha, era o sobrado da Casa Nova. Por sinal a mais velhinha por o corpo central ter sido beneficiado muitos anos depois da construção daquela. A tarimba de ferro e as mantas de farrapo acrescentavam àquela sensação de conforto da primeira protecção que o telhado sem tecto dava, mesmo com o som  da chuva a bater directamente nas telhas. Sensação de conforto uterino. Com  céu limpo as trinta janelas deixavam passar a claridade das noites estreladas. E o sonho nasceu ali.

As carvalheiras ainda lá estão e tantas há. Estorranha, Trazancora, Espantar, Pedrulhos, Sant'óginha...
 Abriam alas às cantigas.

A gaita grileira é aquela afinada em Ré. Aquela que retine acima das outras.

Nota
Para quem ache que tudo isto não passa de lirismo de restivo tem uma alternativa, deve ler o PROTOPOEMA DA SERRA D’ARGA de António Pedro. Vale bem mais a pena.

Este cantinho é dedicado à Senhora Deolinda da Castelhana do Lugar de Espantar em S. Lourenço da Montaria e à Senhora Laurinda do Cerquido Últimas vozes primitivas da Serra D’Arga que eu, por ter nascido ainda a tempo, tive a felicidade de ouvir.


Ao Tino Baz da Guarda. Galego da margem direita do Rio Minho. Gaiteiro, tocador de viola, sanfoneiro, cantador. Quem já o ouviu tocar e cantar ouviu a Galiza. Quem o ouviu falar ouviu as entranhas dos montes da nossa terra nai de onde brotam as águas que fazem verdes os nossos campos. Quem o viu, viu a Arte!

As fotografias em Santa Tecla são o meu orgulho. Foram tiradas pelo Benjamim Enes Pereira, do Lugar de Montedor, de quem um dia alguém contará a história por muito que pese o seu desprendimento.

De João Verde são as armas remotas deste  portão que já se abre. Então a viola das chulas cruzava-se com a gaita das moinheiras das foliadas, das caralladas. Acrescento-lhe agora a concertina, a minha arma.